Sunday, September 30, 2007

Pai babado

Nesta fase em que a minha prática ciclística vive um parentesis (que já leva praticamente 4 semanas), o uso da bicicleta pode ser voltado para outros rumos. Tenho aproveitado para fazer uns passeios com o meu filho e a coisa tem-se revelado muito compensatória.

O rapaz sempre teve um jeito natural para as bicicletas que lhe permitiu por exemplo deixar as “rodinhas” ainda com 3 anos e ficar em segundo nas 3 (pequenas) provas de XC em que participou apesar de serem disputadas com miúdos com mais dois ou três anos do que ele. Só nunca ficou em primeiro porque há um vencedor sistemático, dois anos mais velho, que é doutro planeta.

Quanto mais técnico e físico for o percurso, melhor para ele. Se subir depressa não é problema, a descer e a curvar a diferença para os outros é enorme e há que dizer que eu próprio às vezes não tenho pedalada para determinados desafios técnicos que ele ataca sem medo e, 90% das vezes, passa à primeira sem problemas.



A maior demonstração das suas capacidades ocorreu recentemente num passeio de 20 km na Tapada de Mafra que, mesmo com um acumulado superior a 450m, foi percorrido a uma média que não envergonharia muitos adultos mas com a particularidade dos dois últimos terços terem sido feitos em “single-speed” devido a uma avaria (dropout do desviador partido).

A novidade de agora são os saltos. Se eu sou daqueles que, mesmo perante autênticas rampas de lançamento, arranjo sempre maneira de manter os pneus bem juntinhos ao solo, o rapaz parece que ganha asas e voa autenticamente em altura e comprimento de forma desconcertantemente controlada.


Quem leu o texto até aqui pensará que o miúdo tem um pai “daqueles” que se projecta no filho, induzindo-o a praticar com excelência o desporto de que gosta, “puxando” por ele sistematicamente. Felizmente não sou assim. O meu filho chega a ficar mais de um mês sem tocar na bicicleta. As provas em que entrou foram aquelas onde eu fui em família e, dado o seu gosto pela coisa, havendo uma competição para a idade dele, seria uma violência não o deixar participar.

Acrescento que nos seus 8 anos só fez mais de 20 km uma vez (com algumas paragens prolongadas) e no máximo terá feito 4 vezes uma distância superior a 10 km todas neste verão. Quando anda de bicicleta costuma é procurar trabalhar a técnica. É fácil porque ele adora desafios e é duma persistência doentia cada vez que se lhe depara um obstáculo novo.

Concluindo diria que objectivamente o rapaz parece ter um talento clarissimamente acima da média. Sendo pai dele, esta frase teria pouca credibilidade se não fosse também fruto de opiniões imaparciais.

O crescimento das crianças nunca é linear e tem fases nas quais dois miúdos exactamente da mesma idade podem apresentar diferenças enormes de disponibilidade física. Com o tempo, eventuais diferenças tendem a esbater-se sendo amplamente conhecidos casos de super-mini-campeões que na idade adulta acabaram por alinhar pela mediania. Talento normalmente equivale a resultados e a obtenção sistemática de boas classificações é perigosa em idades mais tenras podendo afectar a formação dos miúdos.

Por isso o meu filho vai continuar a andar de bicicleta e eventualmente competir, mas sem exageros e só enquanto isso for manifestamente divertido para ele. Não me passa pela cabeça federá-lo muito menos colocá-lo numa escolinha de ciclismo.

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