Saturday, January 12, 2008

Pneus - hora de decisões

Os pneus são um ponto chave da BTT muitas vezes ignorado.

Quando as coisas correm normalmente, os dois pneus são o interface entre o solo e a bicicleta. Quando assim não é a manobra em causa até tem um nome: queda!

Também são a parte da bicicleta que está mais abaixo e, tirando os momentos em que se utilizam mudanças obscenamente leves, é a única parte que rola à velocidade da própria máquina.

Estando no ponto mais baixo são portanto pau para toda a obra: A eles pede-se o impossível. Queremos aderência mas ao mesmo tempo baixa resistência ao rolamento. Queremos capacidade de deformação mas predictibilidade. Queremos baixo peso mas durabilidade. Queremos resistência aos furos mas pouca borracha. Queremos bom comportamento em lama mas tambem em seco, etc... etc...

Complicado? Muito! Mas ao mesmo tempo não nos podemos esquecer que, pela sua faceta de suportarem o contacto com o solo, acabam por ter uma influência enorme no comportamento dinâmico sendo todavia uma das componentes mais baratas que temos nas bicicletas. Aqui conseguimos conciliar o irreconciliável. Podemos ter a melhor performance a um custo sempre suportável quando comparado com outros...

O maior problema que os pneus têm para mim é a dificuldade de escolha principalmente porque há que conciliar inúmeros factores. 95% ou mais dos ciclistas (mesmo os mais regulares) não andam a mudar de pneus em função do percurso que pretendem fazer.

Como se deve escolher um pneu partindo do princípio que o iremos usar para todas as condições possíveis?

Para começar há que fechar o âmbito. Se tenho uma bicicleta com 150mm de curso e gosto de descer à bruta não vou obviamente comprar um pneu de 1.9 com tacos baixos mesmo que saiba que de vez em quando uso a bicicleta para passeatas em estradões planos com o pessoal amigo. No meu caso, tenho uma bicicleta com 115mm de curso, faço algumas voltas em zonas com bastante calhau e constante sobe-e-desce, sou fraquinho a descer e frequento algumas provas tipo meia-maratona. Cedo entendi que tinha que escolher algo leve, aderente e com uma secção relativamente generosa que me perdoe a falta de técnica.

Depois de muito ler sobre o assunto optei por uns Schwalbe Nobby Nic em 2.1. Gosto deles? Sim! Para mim só têm três defeitos: comportamento pouco franco da roda da frente em curva, flancos pouco resistentes a rasgões e muitíssima tendência para furos. As vantagens do lado da aderência, peso e capacidade de rolamento no entanto mais do que compensam os defeitos principalmente com uma montagem sem câmara a baixa pressão que além de resolver o tal tema dos furos quase elimina o primeiro defeito ao mesmo tempo amplificando todas as qualidades referidas.

Será que haveria melhor? Muito provavelmente mas como não experimentei outros não estou certo disso.

Qual a melhor forma de nos assegurarmos de que escolhemos a combinação certa (repare-se que o da frente pode, e em alguns casos deve, ser diferente do de trás).

Em primeiro lugar há que fazer uma lista de modelos que se nos adaptem. Depois é reduzi-la com base em factores controláveis sem testar como o peso e a capacidade deles para serem montados sem câmara (este aspecto é muito relevante porque não tenho dúvidas em afirmar que uma montagem sem câmara é melhor em 99% dos casos).

Reduzida a lista, o que se deve fazer é procurar análises desinteressadas na net e revistas credíveis. A tática que uso é não considerar nunca as qualificações das revistas que fazem um "teste" a um produto e depois têm a distinta lata de colocar quase na mesma página um anúncio dessa marca. Ignoro também aqueles comentários do Sr. que acabou de comprar um produto e publica uma opinião elogiosa dizendo no fundo "vejam só a última maravilha que eu comprei".

Vou é à procura dos insatisfeitos. "O pneu andou 300km e estava gasto". "Furei uma em cada duas voltas". "Chego às curvas e a bicicleta segue a direito". "Nas subidas inclinadas e com pouca aderência a roda patina mesmo com o pneu comprado ontem", etc... É neste muro de lamentações que se vê quais os reais defeitos do pneu e se são controláveis ou aceitáveis para nós. Por omissão também se descobrem as qualidades principalmente se for um pneu muito vendido.

O objectivo é sempre reduzir mais a lista. Chegados a dois ou três modelos, há que bater a portas conhecidas para se tentar testar o que se conseguir. Atenção que o processo pode ser penoso porque a melhor forma de o fazer passa por montar o pneu ou pneus na nossa própria bicicleta. Se for sem câmara então é duríssimo por isso convém que a lista seja de facto o mais reduzida possível.

Depois há que estar preparado para errar. Se não tiver hipóteses de testar nenhum modelo de jeito e optei pelo primeiro da tal lista, tenho que pensar que o dinheiro investido não terá sido todo em vão como veremos abaixo. Se ficar desiludido, passo ao segundo da lista e assim sucessivamente dentro do suportável. Convirá relembrar que são o componente que tem a relação comportamento da bicicleta/custo mais favorável mas, como o dinheiro também não estica, há pelo menos duas boas soluções seguras:

1 - se tenho um amigo que só usa Maxxis Larsen TT em 2.0 e eu acho que é o ideal para mim posso propor comprar os pneus mas depois de andar umas dezenas de kms, caso não goste, ele ficará com eles para a próxima vez que mude sendo, nesse caso, acordado um pequeno desconto para que também fique satisfeito.

2 - no caso de se desistir de um determinado pneu o melhor é desmontá-lo mesmo antes de lhe dar uso excessivo, limpá-lo bem e publicar de imediato um anúncio num desses fóruns a vendê-lo com um desconto considerável face ao custo de loja. Convém nesse caso conservar a factura para que o comprador saiba com todo o rigor quando foi comprado.

Enfim... se tivermos algum cuidado, penso que não é assim tão difícil maximizar as possibilidades de se escolher o pneu ideal para nós.

Com o evidente desgaste que os meus pneus já mostram, começa-se a aproximar portanto o momento de mudar.

Mais do mesmo ou novidade, logo se verá...

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